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Itens da cesta básica continuam subindo no país

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Um contraste chama a atenção nos resultados do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgados : a primeira deflação do país em mais de dois anos veio a reboque de preços administrados, como combustíveis e energia – mas registrou mais uma aceleração dos preços de alimentos.

Dentre os 13 itens da cesta básica, 12 tiveram alta na janela de 12 meses do indicador de preços medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A situação é preocupante pois são produtos essenciais e que impactam de forma relevante as camadas mais pobres da população.

Segundo a última Pesquisa de Orçamento Familiar, divulgada pelo IBGE em 2019, as famílias que ganhavam até R$ 1,9 mil gastavam mais de um quinto (22%) de sua renda com alimentação. Já entre as pessoas com a renda mais alta, os gastos com comida representavam 7,6% do orçamento.
A assistente de projetos Erica Batista diz que a família diminuiu a lista de itens no mercado e sentiu principalmente a alta do leite e seus derivados. O leite foi o segundo item que mais subiu na cesta básica nos últimos 12 meses.

“Fizemos compra essa semana e deu para comprar só o básico do básico. Coisas com leite, então, estão impossíveis. Aqui em casa, queijo só os que meu pai compra com mineiros que vendem na porta. Nunca mais vimos muçarela”, conta. 

Ela diz que a família precisa usar o vale-alimentação para a compra do mês, e faz as semanais no cartão de crédito para comportar os gastos.

O analista de atendimento Matheus Ferreira diz que mais de 35% do seu salário vai embora com alimentação dentro e fora de casa.

"Deixei de comprar carne bovina, só compro frango e carne suína que estão mais baratas. Passei a encontrar outras opções, como pão de forma e alimentos integrais, que estão mais em conta do que os convencionais, e troquei o leite de caixinha pelo em pó", diz.

Deflação concentrada

O grupo de alimentação e bebidas teve o maior impacto de alta nos preços: 1,30% de alta em julho, que representou 0,28 ponto percentual do IPCA final.

O economista Fábio Romão, da LCA Consultores, projeta uma alta dos alimentos para 2022 de 14,2%, repetindo o arranque de 2020, quando a pandemia do coronavírus desestabilizou o mercado e trouxe pressão para o setor.

"A guerra da Ucrânia trouxe um novo desarranjo para as cadeias logísticas, o dólar continua muito alto e favorecendo exportações, e mais uma vez houve questões climáticas que prejudicaram as safras", diz Romão.

“Esse alívio da gasolina beneficiou mais a classe média. Mesmo o diesel ainda não recuou e não barateou os fretes. Famílias para as quais a alimentação pesa muito continuam penalizadas”, avalia.

Por ora, a deflação ficou concentrada em reduções no grupo de Transportes (-4,51%) e de Habitação (-1,05%). Só o primeiro grupo foi responsável por derrubar o IPCA em 1 ponto percentual.

A gasolina, sozinha, teve impacto negativo de 1,04 ponto percentual no IPCA, resultado da instauração de um teto para as alíquotas de ICMS (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços) e de reduções de preços nas refinarias definidos pela Petrobras.

A energia elétrica residencial (-0,24 ponto percentual no IPCA) também se beneficia do recuo das tarifas para a bandeira verde e pela aprovação, pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), das Revisões Tarifárias Extraordinárias de dez distribuidoras espalhadas pelo país.

São os primeiros efeitos da diminuição dos impostos em ano eleitoral, estratégia adotada pelo governo e pelo Congresso para reduzir parte dos preços na marra.

Mas, como mostrou reportagem recente do g1, as medidas para limitar os tributos sobre combustíveis, por exemplo, podem até conter a inflação em 2022, mas devem pressionar os preços em 2023.

"No médio prazo, essa medida tem impactos diretos sobre a inflação. Como o projeto se encerra em dezembro de 2022, em janeiro de 2023, os preços dos combustíveis voltarão a subir. Com a perda de arrecadação e compensação aos estados, o cenário fiscal tende a se deteriorar", disse Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research.

Para os analistas, as medidas de contenção de preços comprometem as contas públicas e desperta novos receios do mercado financeiro de que o país pode perder controle do seu endividamento, o que afugenta investimentos, desvaloriza o real e desacelera o crescimento.

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